Uma longa jornada de muitas transformações
Pedras e muros que se aproximam ...

CADA UM!
"Muito bem Jazão. Você é poeta, perigoso, porque de repente esta dando as palavras a intenção que interessa você. Só que essa ansiedade que você diz, não é coisa minha não. É do infeliz do teu povo, ele sim que anda aos prantos pendurado na quina dos barrancos. Seu povo que é urgente, coisa cega, coração aos pulos, pois carrega um vulcão amarrado pelo umbigo, ele então não tem tempo, nem amigo,e nem futuro, que uma simples piada pode dar em risada ou punhalada, como uma mesma garrafa de cachaça acaba em carnaval ou em desgraça. É seu povo que vive de repente porque não sabe o que vem pela frente então ele costura fantasia, sai fazendo fé na loteria, se afinhando, se esguelando no estádio, bebendo no gargalho, pondo no rádio sua própria tragédia a todo volume, morrendo por amor e por ciúme, matando por um maço de cigarro, e se atirando debaixo do carro. Se você não aguenta essa barra tem mais é que se mandar, se agarra na barra do manto do poderoso crionte e fica lá em pleno gozo de sossego, dinheiro, e posição com aquela mulherzinha. Mas Jazão, já lhe digo o que vai acontecer, tem uma coisa que você vai perder que a ligação que você tem com a sua gente, o cheiro dela, o cheiro da rua. Você pode dar banquete Jazão, mas samba é que você não faz mais não, não faz.. e é ai é que você se atocha, por que vai tentar, e sai samba ruim. essa é a minha maldição, gota d’água nunca mais seu Jazão, Samba? aqui oh... Nunca ! Você não engana ninguém, nunca !! Gota d’água ? NUNCA MAIS ! (Desesperada)/(Choro)Vai! Vai ! Vai atrás dela vai ! Corre,não é essa a sua grande ambição? Depressa! Bebe, come, lambe, goza... mas se quem faz justiça nesse mundo me escutar, esse casamento imundo não vai haver não, por falta de esposa. (Gritando)"
No fundo de um salão
As nuvens escondidas
Vagando, vadias, velhas
Em uma vala
Alegres, aleijadas
Amarguradas
Assim, durante
Eu sendo na noite
Rebuscada
Sem teto ou tato
"Tique-taque
Tique-toque"
No fundo de um salão
Fétido, seco, molhado
Macio, abafado, ventilado
Eu, observando o universo
Observando-me
Cheio de ratos
No fundo de um salão
E engolia o pé da mesa
E lia os olhos dos livros
E via o som do mar
Em mim, no fundo de um salão
Sub serei em baixo dos céus
Nascendo há tantos e tantos...
Aqui sou rei
Sou príncipe
Sou duque
Plebeu, não sou eu
Pagu tem os olhos moles
uns olhos de fazer doer.
Bate-coco quando passa.
Coração pega a bater.
Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.
Passa e me puxa com os olhos
provocantissimamente.
Mexe-mexe bamboleia
pra mexer com toda gente.
Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.
Toda a gente fica olhando
o seu corpinho de vai-e-vem
umbilical e molengo
de não-sei-o-que-é-que-tem.
Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.
Quero porque te quero.
Nas formas do bem-querer.
Querzinho de ficar junto
que é bom de fazer doer.
Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.
Em época de eleições
Vejo muitas mudanças acontecerem
Pessoas rejuvenescerem
Milagres e lições
Em anos de eleições
Vejo opiniões
Discursos
Discutições
Uma tramela
Batendo na minha porta
Gema amarela
E o progresso que não se torne regresso
Se não serei eu,
Que proíbem de votar,
Que ousarei no ápice de uma revolução
Me revoltar
O espelho não me prova que envelheço
Enquanto andares par com a mocidade;
Mas se de rugas vir teu rosto impresso,
Já sei que a Morte a minha vida invade.
Pois toda essa beleza que te veste
Vem de meu coração, que é teu espelho;
O meu vive em teu peito, e o teu me deste:
Por isso como posso ser mais velho?
Portanto, amor, tenhas de ti cuidado
Que eu, não por mim, antes por ti, terei;
Levar teu coração, tão desvelado
Qual ama guarda o doce infante, eu hei.
E nem penses em volta, morto o meu,
Pois para sempre é que me deste o teu.
Podia ser quebrado
Cai no vazio do lado errado
Não há nada que eu possa fazer....
I love you, but I don’t say...
I say “going”, you say: “Hum…”
I am inadequate
You have flavor fantastic.
I am dead
You grow
I’m go
You stand up
I give all your
You give my kiss
So, I understand what you say
I don’t leaving!
I hold to your hands
I believe now to works sincere
You give my kiss...
Nossa de vez em quando percebo quando besteira escrevo... Desconsiderar....
:s
I –
O telefone tocou. Ela correu para atender e sentou no sofá. Eu observava tudo de baixo da mesa enquanto brincado com alguns dados de plástico. Seu olhar era de quem não entendia nada e sua voz começou a embargar. Colocou a mão na boca, em um ato de susto ou estupor. Disse algo como “Não!” ou “Ah meu deus...”. Começou a chorar, o que ouvira deveria ser realmente grave. Levantei-me para consolá-la e larguei os dados sozinhos. Não entendia, como poderia? Tinha lá meus sete ou seis anos. Cabelos pretos que caíam nos olhos e doces sonhos de alvorecer. Era quase pura inocência, apesar de ser bem sensível ao que os outros demonstravam sentir.
Na véspera todos ficaram muito abalados, perguntei mil vezes o que acontecia, mas ninguém quis falar. Tentavam me ludibriar mudando de assunto. Estavam na sala de estar com aquelas caras de preocupação, o cenho franzido, braços cruzados... Alguns perguntavam aos outros: O que vamos fazer agora?.
Empurrava um carrinho desviando das pessoas em pé. Olhavam-me como se eu fosse um coitado, um mendigo ou alguém morrendo de fome. E pensavam em segredo “Pobre menino!”.
Ela continuava a chorar, corri e a abracei com força, como quem quer estancar uma ferida. Já era tarde e não sabia porque ninguém tinha me mandado subir e dormir, por isso estava feliz e não entendia porque ela chorava. Perguntei:
_ Você se machucou?
Sem poder falar balançou a cabeça e limpou a face, parecia que tinha vergonha das próprias lágrimas. Abaixou o rosto e fechou os olhos me apertando forte contra os seios, como quando me ninava. Acho este o momento mais terno da minha vida, mesmo que não pudesse compreender a dimensão do problema que se apresentava na minha frente.
Fica na minha mente, um quadro na parede: a fotografia dela me fazendo cafuné no sofá enquanto chorava. Tem coisas que os adultos tentam nós proteger que não adianta nada. Acho, que querem que a criança seja um consolo. Só depois que puderam digerir a idéia que tiveram coragem de me contar. E foi ela que me contou. Eu lembro como se tivesse acontecido agora. Entrou no meu quarto com um lenço na cabeça e os olhos tristes. Tinha perguntado mil vezes pela minha mãe e pelo meu pai nos últimos dias, só me esquecia deles quando estava distraído com algo.
_ Galileu, precisamos conversar _ ela disse
_ Sobre o que vó ?
Ela se sentou na beira da cama me olhando com olhos secos. Havia a visto chorando pela casa várias vezes naquela semana. Queria parecer séria, mas nem me deu bronca quando derrubei leite no chão da sala, naquela tarde. Não queria que eu percebesse a sua dor.
_ Sobre a mamãe e o papai.
_ Eles chegaram?
_ Não! _ sua voz tremeu e se calou como quem não consegue falar depois respirou fundo e continuou _ Eles não vão voltar.
_ Não?
_ É assim que as coisas acontecem, meu filho. Lembra daquele peixinho que você tinha?
_ Sim _ comecei a pensar no que poderia ter acontecido era criança, mas sabia o que era a morte, apesar de não entender.
_ Ele morreu, se lembra?
_ Papai e mamãe morreram?
_ Sim...
Ela abriu os braços e me acalentou. Continuei achando que eles iriam chegar em algum momento. Passei horas a fio pensando sobre a morte, sobre como morreria, como eles morreram. Disseram que não passou de um choque que envolveu o carro deles e o de um outro homem, que também não suportou. Ainda foram para o hospital, mas nada aconteceu, talvez aquele não fosse o dia de sorte deles.
Preocupados com todo tipo de problema nos afundamos, sensatos, entre a vida no agora e um plano futuro. E mesmo com a morte tão perto existe um extremo medo do fim. O problema é que o fim está aqui presente. Morremos por segundo, diria até por prestação. Morremos até antes de nascer! Para só no fim apenas parar de funcionar. É como uma velha fabrica, que falhe de pouquinho em pouquinho até a decadência total. Nada é "de uma vez para sempre". Ou melhor, tudo é para sempre. Tudo se renova, como já diziam mesmo antes de eu nascer, há milênios. Todos nós: com a mão na manivela da vida. Mas o que é a vida? Será apenas um sopro ou puro conhecimento? Para mim, naquele instante a vida era algo tão frágil quanto um vidro que caí e quebra. Mais frágil do que eu. A minha referência de fortaleza e bravura, agora tinha morrido. E a morte se tornou forte, um monstro robusto que morava no meu armário e crescia a cada pergunta minha.
Era necessário que eu cortasse alguns laços, apesar das pessoas a quem estava preso estarem mortas. Muito complicado para uma criança de sete anos... A liberdade que não queria existir e uma falta de algo que nem sabia. Estava preso a lembranças que conforme os anos passavam se perdiam mais. Agora são tão remotas que nem consigo recordar. Eu morri com eles, fui enterrado naquele dia em que fiquei com a vizinha para que minha avó fosse ao velório.
O mundo é cruel. “The Word be cruel”. Pedaços pequenos que se juntam para se tornar um todo visível, para tornar o reflexo de todas as coisas possíveis ou impossíveis. Cresci muito recluso, sempre com poucos amigos, isso causou em mim certa insegurança. Não sei fazer boas escolhas. E a morte ainda está no meu quarto, no armário. Por vezes é pequena. Outras, grande e insuportável de controlar, mas na maior parte das vezes me soprar coisa no ouvido. Coisas muito difícil de ouvir e encarar, que não abro á ninguém. Só a você é claro.
II –
A madrugada fria e sua melancolia poética. Pessoas caladas indo trabalhar, vagabundos dormido no chão da rua e o sol clareando tudo... Decidi que não ficaria mais trancado em casa, o problema é que isso já fazia três dias. Não dormi direito e estava sonolento da frente da janela. A chuva caía devagar, e os dias passavam tão rápido que me faziam pensar em tantas coisas que nem sei dizer. Sensações de solidão. Nó na garganta.
Posso ouvir o cansaço de viver, de vez em quando. A corrosão das minhas veias pelo tempo e a esperança de um sonho realizar. Muitas vezes sou um zumbi, impondo minha sobrevivência ao mundo. Outras, sou o ânimo, que abre a porta da rua e saí para os dias lá fora. Não me entendo, e nem sei quem sou...Meu mundo fica onde nem todos podem entrar, pois tem uma ponte bem na entrada. Quem consegue atravessá-la me vê no infinito das minhas perguntas.
Queria lembrar o que pensei naquele instante para levantar de súbito e sair de casa. Saí andando bem devagar para sentir as coisas em volta, principalmente os cheiros. Gosto dos cheiros eles despertam outra parte de nós. Lembro dos cheiros da minha adolescência, são os mais marcantes. Lápis novo, castigo, chocolate, chiclete, paixões, tapete, brinquedo, animais, estilhaços, álcool, corações partidos e devorados.
Dobrei em uma rua que nunca tive curiosidade de conhecer. Andei um pouco, e lá longe pude ver uma praça. A madrugada fria fazia com que as pessoas se enclausurassem como eu, neste feriado deprimente. Andei um monte, a rua era estreita e longa.Veio-me a imagem da minha avó. Não gosto de pensar nela, porque trás a lembrança dos meus pais, embora este quadro esteja muito apagado. Já faz muito tempo... Era muito pequeno...
Na praça tinha alguns mendigos dormindo nos bancos. O parquinho onde as crianças devem estar acostumadas a brincar parecia sombrio, não tinha ninguém. Só a brisa que fazia o balanço ir e vir. Apesar desta solidão inóspita, uma pessoa me chamou atenção: Parecia ter um vinte e poucos, tinha os cabelos desgrenhados, estava molhada, bem vestida e bebia com raiva uma garrafa de uísque importado. Não sei o que me deu, acho que por um instante devo ter deliberado. Fui até ela, e perguntei:
_ Olá, você está bem? Parece com frio.
_ Não é só aparência _ ela respondeu ríspida.
_ De certo, está muito frio. Não quer meu casaco?
_ Quero! _ percebi que estava completamente embriagada_ Se quiser me dar...
Tirei o casaco e coloquei em volta de seus ombros, parecia que o frio cortava a minha pele. Durante toda minha investida, na esperança de sua atenção, ela manteve os olhos fixos em um mesmo ponto, como se estivesse hipnotizada.
_ Você tem... Quer dizer... Onde é sua casa?
_ Não tenho mais.
_ Então onde era sua casa?
_ Não interessa.
_ Oh, interessa sim! Eu me interesso.
_ Você não iria entender mesmo!
_ Claro que iria. _ me sentei no banco ao lado dela
_ Iria? Jura? _ pela primeira vez vi seus olhos, vermelhos com olheiras horríveis. Olhava-me com estupor e desespero.
_ Sim. Juro.
_ Se eu contar promete que não irá me sacrificar? Promete que não vai contar para ninguém?
_ Claro. Pode confiar, sou de palavra.
_ Certo._ colocou a garrafa no chão e se ajeito no banco para me ver melhor_ Eu fugi. Foi isso.
Foi tão simples que nem entendi direito o que ela queria dizer. Sentia perto de mim o hálito fermentado do uísque. Não sabia se ria ou se me comovia com a figura magra na minha frente. Por tão poucas informações perguntei novamente:
_ Fugiu de onde?
_ De casa, ué!
_ Ah... Mas você morava com quem?
_ Com o Carlos. _ ela começou a bocejar e piscar os olhos com freqüência, parecia que não me via direito
_ Quem é Carlos? Ou melhor o que ele é seu?
_ Não me fala dele! Odeio o Carlos
_ Ta bom se acalme não falarei mais do Carlos...
_ Você tem uma cama aí?
_ Aqui não, mas na minha casa tem.
_ Está decidido! Vamos para sua casa.
_ Parece mesmo uma boa idéia. Deixar-te aqui seria maldade.
_ Maldade?
_ Vamos!
Fomos para casa, logo que chegou se jogou na minha cama e dormiu um sono profundo. Senti-me bem com alguém em casa. Não era mais tão só.
III-
Era quase meio dia quando ela acordou. Estava perturbada. Franzia o cenho, como quem está com muita dor de cabeça.
_ Onde estou? Quem é você? _ perguntou
_ Eu sou Galileu, prazer _ estendi a mão para que ela apertasse, mas abaixei pois não se depôs a nenhum gesto recíproco, parecia agora rude e amedrontada _ Não se preocupe, você está na minha casa. Nos conhecemos esta madrugada, quer dizer... Eram umas seis ou sete... Aliás, como é seu nome?
_ Laura. Você costuma recolher pessoas bêbadas no meio da rua?
_ Não, mas você que me pediu...
_ Muito obrigada Galileu. Acho que você deve ser uma pessoa muito generosa... Mas agora tenho que ir.
_ Não! Fique, tem café aí. Coma alguma coisa.
_ Muito obrigada, mas tenho mesmo que ir.
_ Eu insisto._ ela deu um suspiro e por acabou cedendo.
Percebi uma grande mudança de humor. Realmente devia estar muito bêbada. Contei-lhe como a encontrei e como viemos para casa. Não disse quase nada, agora Laura pôs um muro intransponível para mim, estava muito sóbria. Senti-me só novamente, apesar de tê-la na mesa junto comigo.
_ Me conte que é Carlos.
_ Eu te falei dele?
_ Não. Só disse o nome. Ficou muito brava quando perguntei quem era.
_ Carlos é meu ex-marido._ abaixou o olhar _ Saí de casa e deixei um bilhete em cima da cama. Problemas de relacionamento... Tem coisas que não dá para concertar. Roubei as duas garrafas de uísque importado dele e fui. Deixei tudo lá.
_ Por isso foi parar na praça?
_ Eu nem sei como fui parar naquela praça._ deu-me um sorriso de menina traquina_ E você? Já fugiu?
_ Sim, uma vez. Logo depois que meus pais morreram. Mas atravessei a rua do outro quarteirão e voltei. Tive medo.
_ Meus pêsames...
_ Tudo bem.
_ Tinha quantos anos?
_ Uns seis ou sete. Não me lembro...
Ficamos ali, calados. Um olhando para o outro. Laura sentindo minha dor, e eu querendo que não sentisse. Parecia constrangida, acho que não sabia como lhe dar com um assunto como a morte, e os rastros que ela deixa.
Dos meus pais não tenho lembranças que se valha, como já disse, só uma neblina que mistura ternura e amor. Não deixaram nada. Lá pros meus dezessete tive uma crise de fúria e queimei todas as fotos que tinha deles. Nenhuma lembrança material, nenhum bibelô ou jóia. Só a neblina, densa e torturante.
Cansado chegou de mais um dia. Chamou por ela na cozinha, na sala, no quarto... Não estava. Franziu a testa, depois de tantas discussões... Pensou no pior, seria fácil para ela. Porém, para ele não. Investigou os armários, as roupas os perfumes. Não poderia ter o largado e deixado tudo aqui. “Deve ter ido á padaria ou coisa parecida”, pensou. Mas viu o papel em cima da cama - letras borradas de choro. E lá estava escrito:
Nos primeiros instantes, teve vontade de matá-la. Não queria morrer? Pois se ela estivesse ali, a mataria. Mas depois de alguns segundos, sentiu culpa. Veio o choro, à vontade de voltar no tempo. Não seria fácil, ele sabia desde do primeiro instante que a viu. Lembrou da imagem dela embriagada de Martini e cólera no bar escuro. E soluçou enquanto morria por dentro, seu mundo estava decompondo-se de pouco em pouco. Sentiu-se pequeno, ineficaz e apenas um monte de poeira cósmica inútil. “Liberdade? Isso é egoísmo!”, berrou e o eco se fez ouvir no vizinho. Cólera, raiva, amor, culpa, enjôo, nojo e um instinto telepático de impotência.
Pode me vê-la como quiser. Podem até se identificar com solidão. Eu deixo. Mas saberiam, que isso é arriscado pois nesta história ela é boa, é ruim e bem no meio: neutra. E as tempestades com que se perde são as mesmas coisas que você chama de ‘besteiras cotidianas’. Além disso as pessoas que passam na rua (de cabeça baixa, ar sério, andar rápido e um cabelo da moda) a desaperta nojo. É realmente desesperante e inevitável. Apesar de tudo Solidão é você em parte, mas sou eu, em tudo que nunca você viu. Define-se muito bem sucintamente como “O colateral das margens de erro”. E nos dias frios e insossos se cobre de culpa para chorar na frente da janela molhada.
Não sabia por que ficara ali na insossa solidão que a comia devagar. Na sarjeta de um banco frio com um litro de conhaque importado, que roubou do marido antes de fugir de casa. E para piorar começou a chover. O vento em seus cabelos e vontade de acabar com tudo, ficou ali parada com olhar fixo no nada. Bebeu mais um gole e pensou que amanhã seria terça-feira... Ela estava sendo como lindonéia: matando seu amor de dor.
“Solidão... Solidão... Retoquei o céu de anil mas a redenção não veio”, pensou, “Fazer o que?”
Tão bem ouvido era o som da menina gritando enquanto se debatia contra a raiva escancarada dentro de si. Pequenos olhinhos olhando para o infinito para não sentir a pura infinidade da dor latejante. Doía mais não era só pela pele, doía por dentro, sangrava internamente. Um sangramento que voltaria a jorrar mais tarde, depois de uma emancipação deste mundo para o mundo que ela iria criar. O mundo de descobertas alucinantes e fantasias futuras, que talvez, nunca se realizariam. Aí então choraria por fora, mas não saberia bem o ‘porque’, só uma forte dor latente da ferida que nunca cicatrizou. E nada mudaria... Só a solidão, que pareceria cada vez mais confortável onde encontraria o regato para sua sede que se convertera , agora, em angustia. Desconcertada sairia de manhã em busca de algo. Todos os dias sem poder escolher como ou o quê. Emocionaria-se com os sensacionalistas e morreria com poemas nas mãos.
Lembrou da época que estava ainda na escola. Sorriu e bebeu mais um gole. Podia até sentir o cheiro de lápis novo, do carpete, das crianças gritando, chorando, brincando... Esses cheiros do calor intenso das descobertas trigueiras. Para ela, nada melhor que os cheiros, eles regem uma outra parte de nós. Tudo se confundia: pasta de dente, chá, ano novo e chiclete. Tudo em uma grande mistura de solidão ou em Solidão, como quiser.
Não faz tempo que venho sentindo verdadeiro nojo do comportamento humano. O mesmo nojo, que não tão obstante, engoliu e marcou todo a geração nos anos 70 e 80. Enquanto deixamos ser representado por literatura vampiresca, tecnocratas, imperialistas e os tão populares “traficantes”. Sem falar de um desinteresse tão grande, que até aqueles que tem capacidade nem se movimentam para fazer a diferença. Ficam na frente da tv assistindo Se Liga Bocão, enquanto engolem com vontade um enorme hambúrguer, ou coisa do tipo. Não sei se é pior aquele que não tem nenhum acesso á informação e age assim, ou aquele que tem pura consciência do que faz e não faz nada para modificar a grande crise que hoje nos devora. Ò hipocrisia nossa de cada dia...
Tenho uma tese muito singela sobre mães que não sabem cozinhar e filhas que cozinham muitíssimo bem. È dedutível que quando não lhe é oferecido algo pronto você vai procurar fazer para si, ou...Quando se têm direitos: se rebelar contra. E assim funciona o revezamento da consciência juvenil. Ter alguma posição ideológica (se é que isso é bom) é coisa de velho, como aconteceu com os jovens na década de 60. Ter algum interesse pelo mundo hoje, é coisa de Nerd (ou CDF, se prefere). E o caminho da humanidade se faz em seus desajustes. Ficamos á espera, com certa esperança, que os filhos destes resolvam fazer sua própria comida. Ou quem sabe questionar a postura do passado deste mundo, pensando em um novo futuro. Ah sim, não se esqueça, se não mudarmos de pressa, este será nosso futuro...
- O invasor me contou todos os lances de todos os lugares onde andou. Com um sorriso nos lábios ele disse: "A eternidade é a mulher do homem. Portanto, a eternidade é seu amor".
A cultura, a civilização só me interessam enquanto sirvam de alimento, enquanto sarro, prato suculento, dica, pala, informação.
- A loucura, os óculos, a pasta de dentes, a diferença entre o 3 e o 7. Eu crio.
A morte, o casamento do feitiço com o feiticeiro. A morte é a única liberdade, a única herança deixada pelo Deus desconhecido, o encoberto, o objeto semi-identificado, o desobjeto, o Deus-objeto.
- O número 8 é o infinito, o infinito em pé, o infinito vivo, como a minha consciência agora.
- Cada diferença abolida pelo sangue que escorre das folhas da árvore da morte. Eu sou quem descria o mundo a cada nova descoberta. Ou apenas este espetáculo é mais um capítulo da novela "Deus e o Diabo etc. etc. etc."
- O número 8 dividido é o infinito pela metade. O meu objetivo agora é o meu infinito. Ou seja: a metade do infinito, da qual metade sou eu, e outra metade é o além de mim."
A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor
Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor
Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha