Viver?

Ela se sentia muito só naqueles dias. Sua mãe havia lhe deixado e a solidão de São Paulo era estridente aos seus ouvidos. Seu seu pai convalescera á tempos, e mais uma vez a solidão lhe assombrava. Precisava andar um pouco, mas ter de andar era muito para suas finas pernas desnutridas. Era atraente, mas nos últimos tempos estava tão maltratada. Tinha um carro, vida financeira estável. Trabalhava como secretária de uma diretora, em uma empresa pequena. Mas a solidão assolava-lhe as costas na cadeira, em sites de conversação e suas nadegas adormeciam facilmente. Chovia tanto aquela tarde, a cidade estava sombria. Isso já era de se esperar, no inverno da grande São Paulo. Os carros passavam lentos, com o transito parado.
De súbito levantou-se da cadeira, foi até a janela. Adorava aquele cheiro de sujeira que vinha com o entardecer e a umidade. Parou na janela e quieta ficou, e sentia os pingos frios de água cair em si. O vento que sacudia seus cabelos, era tudo frio. Queria dormir, bocejou, olhou pro chão, apoiou o cotovelo direto no parapeito da janela e largou os ombros. Sentia a frieza da cidade, e das suas mãos. Fazia tempo que não sentia isso assim. Sua mente estava cheia e vazia. Sua tristeza lhe invadiu, o pai não fazia tanta falta, saiu de casa já quando ela era pequena. O viu umas duas vezes, uma no seu aniversário de dez anos e outra no seu aniversário de quinze. Quando recebeu a noticia de sua morte não se depois a ir á cidade mais escondida e pequena que ouvira falar. Mas sua mãe quem a criara todo esse tempo, morava no cemitério de lembranças na sua cabeça. E escorreu uma lágrima do rosto dela. Abaixou ainda mais a cabeça, e o vento veio forte de fora. Precisava de companhia, mas não sabia onde buscar. Tinha muitos segredos, mais um que ainda não compartilhara com ninguém era o de com vinte e seis anos nunca ter amanhecido sua aurora. Já havia saído com alguns homens, beijado eles, mas nunca se entregara para nenhum deles. Nem mesmo ela sabia ao certo o porquê, só não queria. Era uma mulher bastante atraente, não era de se jogar fora... Tinha muitas propostas ao seu pé, mas não precisava. Precisava agora de companhia. Rápido antes de sufocar o grito incontido. Desconhecia sua existência em uma sociedade hipócrita, que se condiciona á ser assim e sendo assim ela participava disso, com a crença de que quando morresse o mundo dela morreria. Cada vez a chuva aumentava e a vida passava mais rápido com a correria dos seres lá em baixo, para se esconder da água.Muitos pensavam no terno italiano que vestiam, outros na bolsa de couro importado, alguns no tempo que corria impiedosamente e nos pregões que sustentava aquela armação da população. Que não tinha mais controle e parecia servir ao tempo em uma escala de causas e efeitos. Sublime para ela que observava tudo, e calada não sentia o respirar o suspirar de cada vida lá em baixo.
Virou-se, foi até a cozinha, e foi então que resolvi me mostrar. Entrou no cômodo e seu rosto não escondia a expressão de susto. Eu estava encostado na pia, quieto. Ela colocou a mão na boca e me questionou:

_ Quem é você?

Começou a tremer como se eu fosse alguma assombração ou coisa do tipo. Um soluço de suspiro (seja lá como quiser interpretar) soltou.

_ Calma... Desesperar-se não adianta muita coisa. Não sou ladrão, apenas vim te fazer companhia.

_Como entrou aqui?

Arregalou os olhos, de deu alguns passos para traz.
_Você, me deixou entrar... Aliás como é seu nome mesmo?

_ Não convidei ninguém para cá, principalmente hoje. Pode se retirar.

_Só vou quando você realmente quiser que eu vá.

_ Então vá!

_ Realmente, não está curiosa para me conhecer?

_ Como entrou aqui? Como conseguiu a chave?

_ Já te disse. Você me deixou entrar.

_ Não te conheço.

_ Não seja tão fria, não sou nenhum assassino.

_ Por favor, vá embora.

Neste momento, parecia que tinha baixado a guarda. E levantou a mão apontando pra porta.

_ Quer me conhecer? Posso me apresentar.

_ Quem é você? Como se chama?

_ Me dê um nome.

_ Não tem um nome? Você não existe!

_ Claro que existo não me vê?

_ È um fantasma!

_ Fantasmas não existem... Há quantas perguntas. Não quer se apresentar?

_ Não diz o seu nome, também não digo o meu!

_ Não fique nervosa... Calma. Não precisa aumentar o tom.

Fiquei quieto, esperei que ela falasse a primeira palavra. Pra depois podermos continuar. Passou muito tempo, eu fiquei parado, ela me examinava com muita frieza. Parecia que podia atacar-la quando quisesse. E então um sentimento de curiosidade começou a pairar sobre aquela armadura. E me falou:

_ Me chame de... Pra quer saber meu nome?

_ Não é assim que o ser humano começa a reconhecer emoldurar, criar uma imagem de algo ou alguma coisa? Botando um nome?
_ Não sei... Então não crie “uma imagem de mim”, me chame de você...

_ Mas “Você” foi um nome que vai virar uma imagem para mim, se começar a te chamar assim.

_ Então não me chame!

Deixei-a nervosa.

_ Se assim quiser. Bom, agora você que criar uma imagem de mim?

_ Talvez... Sinto necessidade disso, qual seu nome?

_ Me de um.

_ Não funciona assim. Então não tem nome. Pronto!

Estava com um ar de desdém.

_ Se quiser fique aí. Mas por favor, não mexa em nada!

Ela entrou para a sala, e ligou o radio. Achei que era hora de ir embora, não sei nem se ela se incomodava, mas fui.
Deixei alguns dias se passarem, ela começou a se questionar sobre o que tinha dito, pensou muito, e com o tempo a curiosidade aumentou. Deixei que este sentimento ficasse bem grande para voltar. Sabia que seria mais bem recebido do que antes. A tristeza dela me deixou melancólico dentro de seus pensamentos. Seus joelhos doíam toda a vez que voltava pra casa. Sabia dos limites dos pensamentos dela, eram bem difíceis, seus conceitos, suas memórias, aquelas formas representativas. Eu sabia do limite da linguagem dela. E queria faze - lá perceber o mundo á sua volta. Remover do fundo as questões inúteis, que poucos conseguem responder, e que a verdade acaba se tornando uma forma representativa, tendo cada um a sua.

Os meus dedos podiam sentir o cheiro daquela visagem. Fechava os olhos e pensava no lápis do lado do papel. Quieto, assim permaneci. Toquei o lápis, sentindo o movimento dos relevos, enquanto não sabia direito o que escrever. Levantei-me e nervoso resolvi visita-lá.

Sabia que quando aparece seria melhor do que da ultima vez. Ela saía do banheiro enrolada em uma toalha roxa, com os pés descalços e os cabelos presos.

_ HAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

_ Calma!

_ O que faz aqui novamente? Não estava satisfeito com última noite?

_ Não, disse calmo

_ Me explique quem é você.
_ Você vai me explicar.

_ Como?

_ Como você me vê? O que você colocou em sua mente como “eu”?

_ Não sei... Agora saía um pouco, vou me vestir.

_ Eu me viro.

Eu me virei. Senti-a transitar, da porta do quarto para o armário.

_ Porque é tão difícil para você encarar seus pensamentos, como algo simples?

A toalha caiu como um baque na cama. E me virei. Ela estava de costas para mim.

_ Porque tem vergonha?

Ela percebeu a mudança, do local daminha voz. Virou-se e pegou a toalha rapidamente na cama. Cobrindo seu corpo.

_ NÂO SEI! E VOCÊ SAÌA DAQUI!

¬¬¬¬¬¬_ Nunca te faria mal. Eu saio. Se vista, você ainda não quer que eu vá.

Fui até a sala e sentei no sofá, e esperei até que ela saísse do quarto. Sabendo que quando o tédio tomasse conta dela, o que seria difícil, eu iria.

A ouvi vindo. Seus passos cheios de certas razões humanizadas, a sandália fazia um barulho. E perguntei de longe:

_ Pra que a senhora tem essa resistência tão grande de mim?

_ Não é resistência, é só uma certa curiosidade. Imagina se alguém entrasse na sua casa e não dissesse de quem se trata, ela me olhou discriminando meu jeito, pode até ser um assassino ou coisa parecida. Você querendo ou não este espaço é meu.

_ Não.

¬¬_ Não o que?

_ Este espaço não é seu!

_ Claro que é. Eu paguei por esse espaço, o possuo.

_ Você diz como se fosse parte dele.

_ Mas aqui eu não faço parte?

_ Não.
_ Como não?

_ Já se perguntou quem é você?

_ Que bobeira! Filosofia barata....

_ Pode até ser. Mas você no máximo tem a capacidade de responder esta questão com seu nome.

Dei uma pausa, ela parecia quieta de mais, queria que ela me respondesse. Mas nada. Ficamos ali uma olhando pro olho do outro, ela estava com a cabeça cheia. E eu tentava manter uma aparência de estável, mas estava quase saltando da mina boca palavras á mil. Sabia que não podia interferir na linha de pensamento dela. Então esperei até que ela falasse. E quando minha atenção por um instante se desviou dos olhos dela, respondeu:

_ Não sei.

De repente percebi que murchava e lentamente pensava ser tão desprezível quanto um cão abandonado, era melhor do que qualquer outro.

_ E isso que a razão que os seres humanos sapiens, faz com seus escravos. Quando não sabemos, temos impulsos nervosos de descobrir.

_ E como faço pra descobrir?

_ Tem que entender se na sua caminhada até agora, para ver se não si perdeu.

Não falava muito para que ela mesma percebesse meu ponto de partida. Meu certo entendimento.

_ Você sabe o que é a verdade?

_ Ninguém conseguiu responder isso ainda, não vai ser eu que vou conseguir.

_ Existe uma lenda africana que diz que a verdade é um espelho que foi estilhaçado no céu e quando caiu aqui na terra cada um pegou uma parte, assim cada pedaço é uma verdade.

Ela andou até o sofá e sentou-se.

_ Porque está me contando isso?

_ Bom pense um pouco. Tenho que ir.

_ Não precisa ir, eu quero que você me responda. Por favor.

Levantei-me e indo até a cozinha me fui. Ela ficou lá mergulhada em pensamento parecia ir e vir como uma onda no mar, de tão mansa que estava.

Pareceu-me que se arrumava mais nas semanas seguintes. Sua postura mudava, suspirava pela vida ainda que esta estivesse por um fio. Não quis aparece deste dias onde as atenções masculinas lá da empresa que ela trabalhava se voltavam para a nova senhorita. Pensava na época que ela só necessitava de um pouco de atenção e conversa. Companhia era a palavra certa. Eu ainda queria ver-la mais umas vezes, talvez isso fosse a bastante, ela continuaria o percurso das perguntas e respostas sozinhas. Talvez nem tão sozinha, mas sem mim. Parecia crueldade minha, mas de noite antes de dormir á via rezando para que eu aparecesse. Estava sempre perto dela, só que não percebia. Queria mais, a tristeza que agoniava a alma da senhorita, tinha se afastado. Estava mais despreocupado. Ouvia suas conversas no telefone com amigas, coisa rara antes.
Mas foi naquela sexta, quando ela saiu do trabalho e foi direto para um bar com alguns colegas, que passou um pouquinho da dose. Eu fiquei esperando ela na porta. Estava cambaleando e não se agüentava no salto. A chave do carro estava na mão direita, a da casa na outra. Vinha lá do fundo do corredor, e eu ouvia o tilintar das chaves. Quando chegou à porta, logo que me viu não fez questão de demonstrar o seu prazer pela minha presença:

_ Você aqui de novo?

E me olhou apertando os olhos, Como se visse várias imagens, suas voz parecia bem turva e tinha leve odor de levedura de cerveja.

_ È... Boa note.

_ Dá licença! Preciso entrar.

Gritou levantando uma das mãos. Afastei-me, ela procurava o buraco da fechadura, mas parecia difícil. Tentou umas dez vezes. Fiz cara de um adulto peando uma criança no auge de uma molecagem e dizendo assim “Você não tem vergonha?”. E me ofereci:

_ Posse tentar?

_ Não... Não, já to conseguindo. Saí de cima pô!

E com um gesto brusco, em deu uma leve empurrada. Ficou ali tentando, um bom tempo. Depois já cansada, virou-se e escorreu escorada na porta, até sentar no chão. E se pôs á chorar como criança.

_ Eu não consigo nada!

_ Claro que consegue, mas nesse estado não.

_ Que estado?

_ E... _me abaixei e abraçando ela desconversei_ Claro que você é capaz de tudo. Olha, nós seres humanos somos capazes de tudo, não vê o mundo?

_ Não gosto do mundo.

A senhorita soluçava desesperadamente. Sentei-me ao lado dela, e passei meu braço pelo seu ombro.

_ Você só pode gostar ou não gostar algo quando conhece por inteiro. Entende-me?

_ Não sei de nada. Só sei que tudo isso é apenas uma bobagem. O mundo que os seres humanos construíram é horrível.

E seu choro aumentou.

_ O que te aflige tanto. Não pode ser o mundo. Mesmo o mundo que o ser humano inventou tem suas coisas belas, ao olhar de nós.

_ Eu quero minha mãe de volta!

E me abraçou, apoiando o rosto no meu ombro. E senti uma gota de lágrima quente cair na minha blusa.

_ Você tem que começar á superar isso.

A senhorita levantou sua cabeça rapidamente, e colocando seu corpo ereto olhou pra mim frigidamente e falou:

¬_ Nunca contei á você sobre minha mãe...

_ Mas eu sei tudo sobe você, mesmo as coisas mais intimas suas. Acalme-se, vamos entrar, dei-me a chave.

E pegando a chave da mão dela levantei-me e abri a porta. Sua tentativa frustrada de levantar, fez com que ela caísse no chão com uma grande pancada. Esticando a mão falei:

_ Pegue. Venha.

_ Calma...

E começou á rir sem parar. Pensei em como não tinha batido o carro na vinda pra casa.
Com a minha ajuda depois de algumas tentativas opoiou no meu ombro e rapidamente estava de pé. Ainda cambaleando levei ela até o sofá. E falei:

_ Espere aí que vou à cozinha e já venho.

Com uma vozinha bem fraquinha me falou:

_ Ta.

Quando voltei um copo de água e um analgésico na mão, mas senhorita já havia adormecido no sofá. Peguei uma coberta no quarto e trouxe até a sala, a cobri e deixei um recado com as seguintes palavras: “ Tome o analgésico assim que acordar”, e do lado coloquei o copo com água e a cartela de analgésico. Pensei muito em porque estava fazendo companhia á ela. E resolvi que logo que ela se desvencilhasse daquele mundo que ela criou eu iria. Não seria fácil por eu me apegar á ela a cada dia. Mas sabia por que estava ali e uma hora teria que ir, para não mergulhar no mundo dela e depois não conseguir vir á tona.
E assim os dias passaram e o tempo do homem passou. Resolvi voltar e ver como ela estava. Desta vez levei flores e toquei a campainha. Ela abriu a porta:

_ Oi.

_ Oi, trouxe para você com está.

_ Bem melhor do que a última noite. Obrigada.

_ Você não vai me convidar para entrar?

_ Entre!

_ Já pensou em sair? Assim sozinha pra esfriar a cabeça do dia-dia.

_ Não gosto de sair sozinha.

Ela andou até a janela, eu fui atrás. Encostei-me no pára peito.

_ Não sei o que me envolve tanto na tristeza e solidão de São Paulo. Parece-me tão inspirador, principalmente assim de noite quando tudo está escuro.

_ Não tem escuridão nesta cidade, não vê as luzes?

_ Claro que vejo senhorita, mas sei que quando todas essas luzes apagarem o que vai restar é a escuridão.

_ Mas aí será dia. Não?

_ Acho que sim e quando o sol for embora?

_ Haverá mais vida...

_ Isso eu sei, todos já me disseram isso. Mas penso em uma possibilidade de tudo continuar. O homem não pode plantar no deserto? Construir e destruir tudo? Ser e morrer sendo? Nunca pensou nesta possibilidade?

_ Talvez tenha focado teu pensamento longe de uma realidade que me disseram ser. Assim entrando em colapso total as luzes da cidade e o sol.

_ Você já teve devaneios?

_ Como assim?

_Todos já tivemos alguma vez. É quando saímos de um níveo de realidade e entramos em outro. E enquanto á esse transição, ficamos com o pensamento em completo...
Ela interferiu:

_ N-a-d-a. Ou em tudo...

_ Não entendo?

_ Queria ter a sensação de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Fico pensando como seria. Mas agora consigo entender porque não posso fazer isso, simplesmente, pois não conseguiria ver, sentir, ouvir, falar ou cheirar nada. Por estar aqui e lá. Se não consigo controlar meu corpo e meu pensamento quando durmo, fisicamente, e sonho, mentalmente. Tendo somente impulsos nervosos fisicamente, estando sempre em minha mente.

_ Pronto! _Espantei-me_ Você conseguiu, conseguiu...

_ Consegui o que meu caro?

_ Entender alguns de seus conflitos. Pode chamar isso de lógica ou razão, mas não que nomear nunca, pois as palavras trazem cargas que relacionamos e comparamos á outras coisas.

_ E isso é tão surpreendente ou belo assim?

_ Procure a beleza de tudo e só assim conseguirá achar sua essência.

_ A minha? Ou o u a de tudo?

_ As duas. Tente compreender melhor você é só assim que compreendemos tudo, e compreendo tudo nos conseguimos compreender.

_ Preciso ir.

_ Não vá. Está vindo um ótima brisa da janela.

_ Escreva uma carta para mim. E jogue-a pela janela sexta feira de noite neste mesmo horário. Fale-me de você, do que tem pensado.

Ela virou-se e pegando as flores na minha mão, botou-as em cima da mesinha. E eu me fui.

Na outra sexta-feira ela jogou a carta da janela. E esta dizia:

Querido Caro amigo,

Passar algum tempo deitada, refletindo sobre o que devo fazer não prece mais satisfazer meus pensamentos. Vejo-me rodeada de perguntas sobre tempo, espaço, o mundo, o ser - humano, a mente. Coisas que só procuro respostas, que não me satisfazem por muito tempo. O que penso acabo jogado no ar me esquecido, depois de alguns tempos retomo o pensamento, e não sei mais por onde começar. O mundo parece tão cheio de competições, desde muito pequenos somos capazes de competir, para mostrar a nossa razão. Querendo ser que não somos, querendo nós aperfeiçoar, ter o pensamento da linhagem que seguirão outros, tentando se superar a cada instante, para mostrar (não para mim), mas para os outros que eu sou o melhor, tendo a razão. Às vezes penso que isso é uma contradição total, que a sociedade é uma contradição, como separados por grupo, que só se enquadram nesses se possuem algo que caracterize este de participar. Cada pessoa é mais uma opinião, mas algo á dizer, correndo o risco de parecer ridículo, sem a menor perseverança de querer deixar de ser. Porque estou sendo? Esta é uma questão que não podemos parar. Ser é fácil, pois agora somos algo. Mesmo depois da morte do pensamento, contivemos á ser, mesmo que este seja algo que não se pode alcançar a olho nu.

Beijos Senhorita



Depois de alguns tempos, enquanto ela passava pela rua pedi á um garoto das mazelas do submundo, que entregasse á senhorita o seguinte bilhete:



Querida Senhorita,

Viver é para os que são e os que acham que são fortes. Nesse contexto, a aprendizagem está em conceber maus momentos como lições de vida e bons momentos como retratos que se guardam para a eternidade. E lá encontraremos só os que amamos verdadeiramente e que transcendem a vida terrena. Teu caminho é longo, mas será glorioso.Não nós veremos mais. Tenho que ir, você tem a última oportunidade, escreva-me esta sexta...

Abraços Seu Caro Amigo.



Naquela sexta, não fui pegar o bilhete, mas sabia que ali estava confinado o grande segredo daquela alma. E queria que este fosse pego por um senhor que ali passava em uma noite chuvosa, preocupada com seu terno italiano ou com o próximo compromisso. E assim sua vida mudasse e esse jogo de montar, que desencadeia uma espécie de elevações voltando á ela um presente dado por mim. E assim sua vida transformada, em belo quebra-cabeça onde o final só a senhorita conseguiria entender que o importante é a jornada.