Um pequeno desvario

Do céu gelado de um sábado, a nostalgia de estar só. O cheiro de leite preguiçoso no ar, um pouco de música só para matar essa agonia. Algo como Beck ou Tracy Chapmen toca no rádio. Realmente nasci na década errada. Olharia rapidamente para as janelas se lá estivessem. Apenas a sombra de mais um sábado corrosivo. Estar sempre com esse cheiro entranhado nas veias era o que mais me magoava. Amava aquele sentimento de lentidão poética que o seco deste eco se faz em mim. Tosco, pouco bonito. De mal de mim, escondida o mais longe da assonância discreta das suas garotas. Os fados que carrego são apenas de pura exatidão grotesca. Fechar os olhos e ir tão longe a ponto de não se achar mais tão viva. Razão de não querer poder e as pessoas apenas olhando meus atos editados em pequenas folhas. Ressecar em puro sol e amar desconhecer esse inverso de desvario que caminha á cada instante o fim de tudo. Um inquilino solto no corredor das loucuras mais profundas, das pequenas coisas do dia. O sapato mal usado e cortina verde-fusco da casa. Por acaso vocês aqui se derretem, em gestos graves de desfazer. Perguntar de onde vinha o algo que tão longe se ia. Esqueceria o próprio instante da mulher poética que me segue pela ruas da Vila. Digitalizando cada vez mais o lixo imprestável de ser apenas um. Complicando o entendimento de mim e a todo segundo sentindo a nostálgica representação de viver. Mais que pequeno desvario...