IV

Agora uma pequena pausa para lamentações de mim para mim mesma. Frustrações a flor da pele que esconde um profundo desejo de ser. Mas não assim medíocre, queria ser um novo pensamento, com provas e bases irrefreáveis, queria ser desejada assim, ou pior: queria desejar assim. Quintana me contou uma coisa hoje, em segredo, no meu ouvido, quando estava quase dormindo no chão do quarto. Chegou de vagar e disse assim:
"Eu sei apenas o meu próprio mal
Que não é bem o mal de toda gente

Nem é deste planeta... por sinal
Que o mundo se lhe mostre indiferente
[...]

E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
Vivo regendo estranhas contradanças
No meu País de Trebizonda..."

O sinal de silêncio do semblante sentido daquela voz me deixou um tanto tonta, boba, sem entender o propósito de tais versos. Preciso criar a libertação para mim, entender a minha existência inexata. Como vou fazer para não derramar o leite? Como vou fazer para escrever? Não discursarei secretamente escondida de meus olhos, inventando desculpas cada vez mais frouxas neste sentido sem sentido: d-e-s-n-o-r-t-e-a-d-o. Falarei sem rapidez para mim mesma, quero comer a minha exatidão para não tentar me entender com condições de matemática. Estou a sangrar sem parar, uma angustia tão forte que nem quero levantar. Juro que não esperarei nada mais, não tentarei me controlar, fugirei com a cabeça quente e morrerei por minha própria vontade morta. Percebo novamente esta retórica que me persegue por que não sei escrever. Não tenho paladar nem olfato para apagar as luzes, muito menos acende-las. Você comerá um tira-gosto com dinheiro
cuidar da contradição de falar neste acesso. Estou morrendo muito rápido e nesta pequena suplica choro, por não saber me explicar. Choro por morrer e não poder explicar a retórica dos meus textos
de mim além dos quartos vazios, pretos
Vou querer toalhas brancas para festejar o anoitecer amortecido nesta repetição.
Acabou: para nada e para ninguém.