Carta ao amor

Olá querido,

Preciso-lhe falar com urgência. Estamos em tempos de morte e eu estou morrendo. Aos poucos vou deixar de ser para integrar o universo como outra matéria. Embora não será um morte como pensas: morrerei em pensamento e nascerei amanhã de manhã. Mas queria lhe falar hoje enquanto você causa em mim esta morte vagarosa, ela que mata enquanto estou além da mim mesma.
Te amo, para isso foi necessário parar de morrer por um instante para me jogar neste abismo sucumbi-dor que se torna o amor que não existe no fim. Me ajude, antes que o sol apareça para eu não esquecer dessa grande besteira que te escrevo, pois não quero que morras nesta figura terna que agora representas tu em mim.
Escrevo para vomitar este sentimento, parir qualquer fragmento: entende-lo em mim se der: não quero-lo : e amanhã de manhã morrer no sol, como um ingênuo pedaço de história viva (o que na verdade nunca se tornará).
Desculpa se não o digo, espero que nunca leia, por isso aqui escrevo. Estou um tanto consternada, como sempre o desespero me pegou de surpresa junto a esta ânsia no meio da noite morna.
Queira me perdoar se nunca ler, não posso fazer nada. Talvez te diga algum dia... Quanto tempo? Não quero ser egoísta contigo, que hoje se mostra em tal esplendor de felicidade e beleza. Ficarei neste estágio platônico, porque só Platão me entenderia agora, ou não...
Para você algo maior que esta incineração que sou hoje
Nunca sintas o desespero de não entender nada ao redor, siga o entendimento de não entender-se: como eu não pude fazer.