Trecho de Objeto Semi-identifica (Gilberto Gil)

"- Tudo é número. O amor é o conhecimento do número e nada é infinito. Ou seja: será que ele cabe aqui no espaço beijo da fome? Não. Ele é o que existe, mais o que falta.

- O invasor me contou todos os lances de todos os lugares onde andou. Com um sorriso nos lábios ele disse: "A eternidade é a mulher do homem. Portanto, a eternidade é seu amor".

A cultura, a civilização só me interessam enquanto sirvam de alimento, enquanto sarro, prato suculento, dica, pala, informação.

- A loucura, os óculos, a pasta de dentes, a diferença entre o 3 e o 7. Eu crio.

A morte, o casamento do feitiço com o feiticeiro. A morte é a única liberdade, a única herança deixada pelo Deus desconhecido, o encoberto, o objeto semi-identificado, o desobjeto, o Deus-objeto.

- O número 8 é o infinito, o infinito em pé, o infinito vivo, como a minha consciência agora.

- Cada diferença abolida pelo sangue que escorre das folhas da árvore da morte. Eu sou quem descria o mundo a cada nova descoberta. Ou apenas este espetáculo é mais um capítulo da novela "Deus e o Diabo etc. etc. etc."

- O número 8 dividido é o infinito pela metade. O meu objetivo agora é o meu infinito. Ou seja: a metade do infinito, da qual metade sou eu, e outra metade é o além de mim."

Lua bonita - Zé Martins

Lua Bonita:

Se tu não fosses casada

eu pegava uma escada

lá noi céu no céu pra te beijar,

ese juntasse

teu frio com meu calor

que dirá nosso senhor se tu comigo te casar.



Lua Bonita me faz aborrecimento

ver São Jorge num jumento

pisando teu quilarão.

Pra que casastes com um homem tão sizudo

que come, dorme, faz tudo dentro do seu coração.



Lua Bonita, meu São Jorge é teu senhor

e é por isso que ele vive,

pisando teu esplendor.

Lua Bonita se tu ouvistes meus conselhos…

Vai ouvir pois sou alheio,

quem te fala é o meu amor.



Deixa São Jorge no seu Jubaio amontado

e vem cá para o meu lado

pra gente viver sem dor,

deixa São Jorge no seu Jubaio amontado

e vem cá para o meu lado

pra gente viver sem dor.

Lua bonita

Eu preparava um estrada para a ilusão me ninar
Para ir te buscar
Ò lua
Mesmo sem os conselhos
Dos alheios
Mesmo assim,
Não terá a chance de sentir dor
Por que o amor
Do seu autor
É muito maior
Mesmo que São Jorge prefira o cavalo
Deixa ele e vem cá
Por que meu pecado
É te admirar


Flor da Idade - (Chico Buarque)

A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor


Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor


Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha