Atriz

_Não! Você precisa pressionar o botão, para que ele vá para frente!

Ela dizia ao espelho, enquanto eu sentado na platéia impressionava-me com sua esplêndida beleza. Seus cabelos cor de sol balançavam esvoaçantes, conforme sua atuação e até parecia flutuar no palco. Eu á mercê daquele conto que já assistira mais de dez vezes, mas não me cansava. Nome nem sei ao certo, mas sua beleza irradiava o palco, tomava conta da cena, podia parar de falar, que estaria tudo certo para os seus ouvintes. As cenas se passaram rápidas como todos os outros espetáculos. Aquela cena final, onde ela entrava com um vestido vermelho e plumas carmim. Aquele ar de superior em seu rosto, composto por uma doçura interminável, eu até já sabia de cor o texto e podia narrar cada passo. Entrava da coxia esquerda, sentava no pequeno banquinho que se posicionava no centro do palco. A fenda da saia do seu vestido deixava á mostra suas belas pernas. Puxava a calda do vestido para que o próximo ator não pisasse, e tragava um cigarro cenográfico. Podia sentir seu perfume, mesmo de longe.

Não esquecerei nunca do dia que á vi pela primeira vez. Passava cabisbaixo pela rua, onde localiza o teatro (não sei hoje, depois de tanto tempo...), e vi um cartaz da peça que apresentava. Decidi entrar, morava sozinho, não tinha ninguém para prestar contas do horário de voltar. Sempre fui assim muito solitário. Paguei o ingresso, a peça iria começar onze e meia, e eram dez e pouco. Muito sistemático resolvi nem ir para casa, e fiquei por lá mesmo em um bar na esquina, que daria para ver o movimento do teatro. Então quando ia dando onze horas parou um taxi na porta do teatro, e ela desceu graciosa em seu andar. Entrou no teatro com um figurino nos braços e deu boa-noite para o porteiro, vi seus lábios balbuciar. Parecia estar com pressa, mas seu rosto não escondia aquele leve sorriso animador. Não hesitei em nas noites seguidas á essa passar no teatro, e comprar o ingresso, já que este ficava no caminho para minha casa. E cada espetáculo que assistia me encantava, mais com a menina que representava uma moça chamada Janete. Saía do teatro dando suspiros e contente.

Ela começou a me intrigar, e a idéia de chegar perto dela era como seu fã era amimadora. Ensaiava o que iria dizer no caminho ao teatro:

_Olá, eu sou... Não! Olá não!..._ parava um pouco refletia _ Oi! É “oi” é uma boa... Que tal... : Oi, eu sou... Não! Não! Não!

Será que ela iria gostar de mim. Poderia puxara papo, aí iria fluir bem natural. Depois concordaria com tudo que ela dissesse e balançaria a cabeça com um ar de intelectual.
Daria até para eu pedir o telefone ou mesmo convida – lá para dançar um dia desses.
Imaginava com seria, puxaria cadeira para ela... Talvez pudéssemos nos casar um dia, ter gêmeos, um cachorro é uma casa com um grande jardim. Mas refletindo, percebi que tinha planos extremamente juvenis. Ela tava tomando conta daminha cabeça.

Então naquela quinta fria, depois de assistir o espetáculo resolvi ir até o palco cumprimenta – lá:

_ Oi... , e outro espectador entrou na minha frente, abaixei a cabeça e quando ia indo em borá eu ouvi aquela voz doce
_Eí você ! Psiu!
Eu olhei para traz

_ Vem cá, meu bem!
Mas não era comigo, certo ódio me invadiu, vontade de fazer ela me perceber!
Saiu um homem de corpo escultural e postura de uma classe social superior á minha bem atrás de mim. E foi até ela, dando um abraço muito forte. E percebi que era hora de eu ir. Cabisbaixo igual aquela noite que passei na frente do teatro, quando a vi pela primeira vez. E pude ainda ouvir um pouca da conversa dela, dele junto comas vozes do atores que se confundiam com o publico.

Ela: _ Você gostou? Nunca veio na foi? Ainda bem que veio desta vez.
Ele: _Cheguei atrasado, mas ao menos cheguei.
Ela: _ Por isso não te vi chegar. Pode entender a peça?
Ele: _ Há claro! Quando cheguei ainda estava no início...

E as vozes foram se confundindo cada vez mais que me aproximava da porta de saída do teatro. Ainda olhei uma última vez para trás, mas já estava muito longe e precisava prosseguir.

***

Abri a porta, a noite parecia mais iluminada do que a anterior, podia até ver a sombra dos velhos e corroídos móveis. Deitei – me na cama, ma parecia dura como pedra. Olha no que a desilusão de um homem nós leva. Virei de lado e passei a noite em claro até amanhecer.

No dia seguinte foi o dia que mais me animei com a organização de meus pensamentos. Não fui ao teatro. Quando cheguei em minha casa de noite, sentei em minha cadeira refleti um pouco sobre como poderia chegar mais perto dela. Mesmo que algo dentro de mim dissesse que não. Em mim tudo aquilo parecia uma urgência. Então tive a idéia de persegui-la até a sua casa. Mas tinha de ser um jeito que ninguém me visse.

Aí olhei o relógio e vi que ainda dava pra pegar ela saindo do teatro, pois a peça já havia começado. Peguei um casaco velho preto empoeirado, dentro do armário, porque a noite estava fria. E saí. Andei rápido, pois o teatro ficava longe da minha casa, e perto do trabalho. Depois de muito andar, cheguei á tempo. Perguntei para o porteiro do teatro se peça já tinha acabado ele respondeu que não. Fui até o bar do outro lado da rua, e me sentei na mesma mesa.

Até que vi uma porta se abrir, e logo depois do publico ela saiu vestida de casaco. Deu boa-noite para o porteiro, e com seus passos largos andou em direção ao boteco que eu estava. Logo que passou por mim, levantei-me e fui atrás dela.

Tentava dar por despercebido, às vezes andava em sua frente. E tentava disfarçar o Maximo. Acho que ela não deve ter me percebido. Teve um ponto da caminhada que entrou por uma viela, foi pegando a chave dentro da bolsa de coro preta e entrou em um prédio azul escuro. Presumi, essa é a casa dela. Tinha um lixeiro na frente (do prédio, pois estava com uniforme azul, e o nome do edifício), que comprimento – na. E tratei de puxar papo com ele para conseguir o número do apartamento dela:

_ Boa- noite..., disse

_Boa!

_Você sabe se tem algum apartamento para alugar aqui?

_Não só pra temporada.

_Você trabalha aqui?

_Faço a coleta dos lixos recicláveis. E levo até um posto.

_Você viu que loira...

_È ela é linda! Mora aqui. Dizem que é atriz.

_É mesmo. È na cobertura?

_ Não, ele riu, é no 402.

_402?!Hum...

Olhei no relógio e criei a desculpa:

_ Bom tenho que ir, minha mulher deve estar me esperando. Mas você não sabe de nenhum apartamento por aqui?

_ O moço aqui é difícil ter apartamento para alugar é muito difícil por está rua ser muito tranqüila.

_ Então ta. Já vou.

E acenando tchau fui me afastando. A conversa com o lixeiro foi animadora. Estava extremamente satisfeito.

No dia seguinte um amigo me convidou para uma festinha com muita cerveja em um bar perto do trabalho. Eu disse que não iria que ia ao teatro, e o convidei, ele aceitou. Assim que acabou o expediente fomos para o teatro, ele estava de carro e assim ainda pode passar e casa e traçar de roupa antes de começar a peça. Vesti o mesmo casaco preto empoeirado.

Assistimos à peça inteira. Logo após o termino do espetáculo, quando nós entramos no carro eu perguntei:
_ Se pode me deixar em outro lugar. Não é a minha casa, mas é aqui perto...

_ Claro! Diga-me onde?

E expliquei para ele onde era a casa dela.
Logo que desci do corro, conferi se a chave de fenda estava no meu no meu bolso.
Peguei e segurei bem firme, subi os degraus que dava pra porta do prédio e sorrateiramente abri o portão. Por dentro o prédio parecia bem escuro. Pensei que como saí logo que a peça acabou ela não estaria lá. Subi sem ninguém me ver todos os andares. E quando já estava sem fôlego cheguei ao quarto andar. Era um apartamento por andar, assim era melhor. Forcei ainda um pouco a porta para abrir. Quando entrei vi um apartamento muito bem arrumado, ela perecia ser muito organizada. Dei alguns passos e fui até seu quarto e de repente ouvi um barulho vindo da sala. Era a porta se abrindo, claro que já estava aberta já tinha “arrombado”. Fiquei sem ação, Era Ela! Quando fui me esconder de baixo da cama deixei cair um abajur rosa e o barulho da lâmpada quebrando, do estilhaço ia chamar a atenção dela. Ouvi passos de salto vagarosos ir até a cozinha, pois podia sentir o cheiro dela se movimentando pelo apartamento. Eu não sabia o que fazer. Cada vez mais ficava desesperado. Abri o armário e me joguei lá dentro. Ouvi seus passos mais e mais perto e o desespero aumentava a cada segundo. O meu coração disparou, minhas mãos ficaram frias. Parecia que eu tinha sido pego pela minha mãe fazendo traquinagem, mas agora era muito mais muito serio.

Ela se aproximou do armário, dava pra ouvir. E abriu, quando me viu deu um berro de medo. Era como se toda minha vida tivesse ligada á dela. Podia-me sentir por inteiro, dominar todos os meus sentidos, e um minuto de compreensão fez-se luz e escuro. Seus olhos me via cair, e meu sangue sujava sua roupa. Disse quando pude tomar o último fôlego: Porque fez isso? Eu Morri.

Ela ainda chorou por cima do meu corpo, me carregou até a sala puxando meu corpo pelo apartamento. Voltou correndo até o quarto e pegou um lenço preto e uns óculos escuros. Não reconhecia em seus olhos onde estava àquela doçura de sempre? Levou-me até a escada de emergência do prédio, que dava para a garagem. Puxando-me pelas pernas, me colocou no porta-malas de um velho carro caro amarelo.

Andamos um pouco, demos umas voltas. Meu corpo sacudia, ela estava aflita, estava muito rápido. Parou em um terreno baldio que dava pra o fundo de um prédio. Largando meu corpo lá, saiu correndo para o caro.

Ao amanhecer os microrganismos já tinha tomado conta do meu corpo. E a minha carne putrefaça exalava um odor terrível. Uma senhora estendia roupa no prédio e me avistou, com um susto muito grande chamou a policia que chegou e me levou. Fui deixado ao leu. Fui chamado de indigente e o meu corpo foi levado á uma universidade, que me abriram, para abrir as novas mentes universitárias.

Ela deve andar por aí sem preocupação. Pois nunca a irresponsabilidade da policia brasileira foi atrás. Não posso falar que esse foi o crime perfeito, porque não existe um crime perfeito. Mas ela me pareceu com isso muito inteligente, largando-me em um terreno quem iria desconfiar que eu fosse que já amou ela, mas profundamente. Amor? Isso parece mais sado masoquismo. Bom, agora que já me fui posso dizer que isso é amor. E vou ama – lá com todo o meu ser, mesmo que só seja uma força que sobreviveu depois de uma morte.

Um comentário:

Gabriela e Muitos outros disse...

ooi gaby!!! o texto é lindo vey....
te dolloo
beijuxx