Cada vez que me deparo com uma folha em branco, lembro-me de como deveria iniciar as palavras, para o entendimento geral do meu ponto de vista. Talvez porque as minhas palavras em um papel, onde tudo pode aceitar, não é nada. Encontrava-me em um estado estremo de ir à busca da verdadeira paz, já que um sentimento muito forte me invadia. Precisar ser quem sou, era muito mais do que aceitar ser quem sou e foi então que aquele maravilhoso e vago sentimento pode me compreender em uma só, me levando em lágrimas profundas, e um pouco de nada na cabeça. A paz ficara pra traz, e eu seguia, sabendo que era uma ilusão procurar algo ainda não experimentada. Mas será que se chamava paz?
Cada vez que andava me sentia mais longe, as árvores frondosas, eu nem podia parar para observar. Alguns galhos batiam em meu rosto, e voltavam rasgando minhas costas. Não sabia nem direito porque estava correndo, mas corria com todo força, que em minha vida não experimentara. De repente, o fôlego me faltou e meus músculos da perna me doíam muito, as feridas agora ardiam, e senti algo. Cansaço. Foi então que de um mergulho, caí, com uma dor que cortava meus pensamentos, me desatinando, e o escuro repentino aconteceu.
Chamo isso de fuga!Cansada e nervosa, o ódio podia me ter de inteira que não faria nada, só abriria minha mente para sua entrada. Aí, acordei. Estava no mesmo lugar, deitada, alguns insetos estavam em minhas pernas, e eu muito frágil me ocupara de dormir, até o anoitecer. Devagarzinho levantei, perecia que a terra havia sucumbindo minhas feridas que ardiam de forma terrível. Mas algo me disse que tinha alguém ali, no meio daquelas árvores, foi quando eu o vi. Vinha com suas calças rasgadas, e logo acendera uma lanterna, sua percepção de movimentos era muito rápida, e na sua investigada por entre as árvores não me viu. Ele passou a luz umas duas ou três vezes por mim. Deveria ter lá seus quatorze anos, e de repente o reconheci. Era alguém por quem me apaixonei, era ainda um brotinho, forte, e não me preocupava em ser ou provar pra alguém que era. Quieta, eu era, mas ele não. Foi meu primeiro amor, e de forma arrebatadora, levou muito mais de mim do que pequenos beijos, insignificantes.
Passou a lanterna de novo, e sem querer quebrei um galho. Parecia que o tempo não tinha judiado dele, continuava com em minha mente. Contemplei por um tempo, nunca mais poderia esquecer. E gritou:
_Ta limpo!
Uns cinco garotos saíram de trás das árvores, eu poderia descrever cada um cada detalhe, os conhecia como irmãos, companheiros. Pedro, Victor, De, Erick e Junior. Todos me pareciam tão novos. Quieta dei um passo para me firmar, e mais um barulho fiz, me encolhi toda para não ser percebida. Falaram algo que não compreendi, e saíram, como uma brisa correndo.
Tinha que esperar até o dia seguinte para voltar, devia ter falado que estava ali, talvez eles pudessem me ajudar?Mas já nem os via por entre o matagal, por outro lado, não sei direto por que aquela minha reação. Queria passar despercebida, e parecia que quanto mais me escondia mais me mostrava eu.
Aquele sentimento havia ido á terra, com meu sono. A fome que era um desejável vazio naquele instante não sentia, a sede era pouca, mas parecia que não era de água. Decidi não andar pra canto nenhum ficar ali deitada parada. Sentindo o meu corpo, ser quem era. Agora era aquele momento, eu era aquele momento. A abstinência de uma TV não me incomodava.
E me encolhi contra o fio, e dormi. Dormindo leve sonhei...
Cheguei à sala e estava tudo escuro, de noite havia chovido, podia sentir no ar. Mas não tinha o cheiro do orvalho da manhã. Com um tempo de espera tudo passa, e até aquela voz que ecoava na sala ao lado, se calou. Sentada em um canto, um som de ruído adentrou a sala. E certa melancolia se afastou de mim. Podia ouvir os ruídos das crianças, mas não vê-los. Sentir. Será que era mais do que ver ou provar?
Entreguei-me em um pequeno êxtase de instantes, e a orquestra das gotas de chuva caía sem parar sabre às folhas que escorriam em minha face. Nunca tive, nem nunca terei um despertar tão bom, o frio não era problema, já não o sentia mais. Saí andando sem paradeiro, para ver aonde chegava ver se chegava a algum lugar. Não tinha sensação de estar perdida, pois estava me encontrando. Quisesse talvez estivesse atrás do sentimento paz? Ou era mesmo como uma fuga? Perguntei-me diversas vezes se não era só mais uma crise existencial. Mas em nenhuma conclusão eu chegara. Refleti sobre a minha vida, o meu espaço, o que eu pensava de tudo. Andei bastante, mas o cansaço já não era problema, não o sentia. E de repente vi uma clareira, a tarde já se punha e cada vez mais o medo do escuro não eu não sentia. Corri com força para chegar mais rápido o possível perto da clareira. E vi uma casinha, de madeira, que nem aquelas do João e Maria, mas agora era de madeira. Lá dentro devia morar alguém, pensei, pois queria saber a curiosidade de minha espécie não me deixou. Andei em passos finos e tentei espiar pela janela de vidro sujo, não se via nada. E fui até a porta. Hesitei, abaixei a cabeça, olhei para os meus pés feriados por pedras, mas o engraçado é que não sentia dor. Quando levantei a cabeça de novo vi uma chave na maçaneta de metal da porta, rodei a chave, e encontrei o interior da casa, parecia um pouco velha, empoeirada. A casa estava abandonada.
Logo que entrei me questionei como seria a pessoa que viveu naquela casa. Parecia tudo tão familiar, um sentimento me deu a impressão de que não deveria ter entrado. Mas o que iria fazer? Já estava lá dentro. E deixei que o meu cansaço modificasse os meus pensamentos, deitei no sofá e relaxei. Olhando para o teto não estofado, pensei como era a ligação entre a causa e o efeito. Como eu fui parar ali e a alguns fragmentos do tempo atrás estava em meio á um transito infernal. Queria dormir, mas não sentia sono, só uma grande falta de alguém. Toda via queria ficar ali, mas pensava no passado. Lembrei-me da minha mãe e de seus ensinamentos sobre o fogo, falava que quem brinca com fago faz xixi na cama. Soltei uma risada que encheu a casa com o eco. Quando reparei na parede vi aquela pintura de Da Vinci, onde temos todos os discípulos sentados á mesa fazendo a última ceia. Havia me desgrudado de “Deus” desde a faculdade, que me perguntei muito se ele realmente existira. Procurava agora, paz, aquele sentimento dentro de mim, mas não achava, achava só lembranças esquecidas com o tempo. Na parede da cozinha da minha casa tinha uma replica desta mesma obra. Que ganhava asas cada vez que observa. Uma vez perguntei á minha mãe:
_Eles comiam pão francês, ou pão italiano?
_Pare de conversa boba menina!
Era uma pergunta crucial. Observava tanto que um dia me perguntei se tinha já aquelas feridas nas mãos enquanto comia pensava como seria nojento comer com feridas abertas. Soltei outro riso, gozando da minha ingenuidade. Logo me perdi em pensamentos e adormeci.
Não foi tanto tempo para acordar, acordei no meio da noite, com o abrir da porta. A escuridão era só uma inútil desculpa para aquele medo. O ser humano tem medo do desconhecido, e o medo do desconhecido que abria aquela porta me dominou e se expressou em um grito. Das sombras apareceu um ser pálido com uma arma na mão. Era um senhor de idade media estatura baixa, parecia nativo e me olhava com mais medo de mim do que eu dele. E rápido perguntou:
_ Quem está aí?
Meus lábios secaram e a minha voz faltou. A arma em sua mão tinha poder, e sua voz de cólera me dava mais medo. Dizem que quando nós sentimos amedrontados, devemos ocupar mais espaço, e não tentar se encolher cada vez mais. E foi isso que fiz me estiquei no sofá, e rapidamente me pus de pé. Ele tentava me ver na escuridão, mas parecia que com o brilho da lua só eu podia vê-lo. Quando ia levantando a arma e mirando-a em mim gritei:
_ NÃO! Por favor, sou de bem... Não me faça nada, se essa casa for sua pode deixar que vou ao amanhecer. Mas deixe-me ficar até lá.
Ele abaixou a arma, andou até um candelabro, que tinha em cima da mesa de pernas tortas. Parecia que conhecia cada canto da casa. Pegou como de reflexo, um fósforo no bolso e riscando – ó apareceu luz! Minhas vistas confundiram o homem com o fogo, e de repente o homem estava em chamas como a casa. Eu corri para fora, e em um instante tudo estava queimado. Fiquei ali na frente da pequena casinha encolhida com as pernas contra os meus seios, sentada observando o fogo engolir a casa. Pra mim a calor já não fazia diferença, mas o medo sim. O medo que eu tinha de ficar só. Senti algo andando atrás de mim. Olhei rapidamente, mas não consegui ver o que realmente era. Passou de novo, e de novo. E as arvores começaram a balançar. Senti o meu coração acelerar e a fumaça subiu com o apagar das chamas. Chovia, o desespero me dominou, e corri. Correndo cada vez mais, assustada. Tudo tinha ido tão depressa e agora aqueles sentimentos todos voltaram? Dominar aquilo não era fácil. E senti algo tocar meu ombro, era o senhor, que fora juntos com as chamas contidas pelo fogo. E dizia:
_Saía daqui! Não é o seu lugar!
E banhada em suor acordei. Um suspiro de alivio agora podia dar. Aquele sonho tinha-me confundido completamente. Já era de manhã, e podia-se ouvir os pássaros contarem. Então senti um vazio por dentro... Era fome!Eu precisava pela primeira vez nós últimos dias me alimentar. Procurei como um desesperado atrás de uma droga pela casa por comida, mas nada encontrei. Além de alguns biscoitos amanteigados dentro do armário, e estavam podres. Lembrei-me de minha avó. Ela fazia esses biscoitinhos toda vez que ia lá. Dizia pra mim que nenhuma mentira podia ser verdadeiramente mentira, toda mentira tem um fundo de realidade. Parei por um instante e refleti por eu estava ali, e de repente não sabia mais por que fugira tão longe. Talvez tivesse achado o que procurava muito perto de mim, só não procurei. Estar presa por si própria, sim eu tinha me prendido ali, eu criei tudo aquilo, para poder ter uma desculpa para mim mesma. E caí no chão deixando escorrer pelos dedos o pote de vidro, e som dos estilhaços quebrando ecoaram pela casa. Escorri pela parede como maçarão mole, a minha fraqueza e ao meu pessimismo podiam falar mais alto. O arrependimento era o que mais sentia, e nem sabia direito por que. Pensava em como saí de casa e corri pra lá agora me sentia imunda e perdida.
Meus pensamentos me fizeram sair do eixo, os controla agora eram difíceis às lembranças engraçadas e ingênuas não passava mais de um sonho bom e aquela sala, onde o sol batia o cheiro das árvores molhadas de orvalho, o canto dos pássaros, a paz não estava mais aqui. E porque mesmo estava ali?
Não sabia o verdadeiro por que. Minhas pernas havia me perdido, e meu coração de repente não era mais o mesmo. Decidi levantar, mais a fraqueza era muita, deixei que os sentimentos me invadissem e aquilo tudo de porque joguei fora em poucas lágrimas, que rolavam vagarosas. Pensei: “O Tempo parou”. E tinha parado mesmo.
Ouvi um ruído lá fora, enxuguei as lágrimas, com minhas mãos sujas, levantei esticando o carpo em direção á janela. Vi um vulto, se mexendo por entre os arbustos. E a sensação de estar sendo vigiada voltou. Pensar é muito mais que se preparar pra agir ou falar, o pensar se move através de sentimentos. E pensei que meus sentimentos poderiam me levar fora dali. Em tão tive uma resposta imediata á aquilo tudo e saí da casa me encontrando em uma linda manhã de sol. Resolvi andar. Depois de andar muito e não achar nada para comer, eu ouvi um barulho. Mas não era aquele barulho de floresta, galho gravetos. Não... Não, era um barulho de carros. Virei á minha esquerda perseguido o barulho, vi ainda longe uma rua muito movimentada esconder-se por entre os galhos. Parei. Pensei o que eu queria... E dando as costas para o “mundo”, fechei os olhos e corri. Caí no chão e me contentei em ficar ali, em um ato de fraqueza. Pronto! Foi aí que descobri que a paz é um estado de espírito. E que toda vez que eu podesse ouvir sem nenhum barulho em volta, olhar com olhos fechados e sentir a frieza da terra, com seu cheiro sujo. Era quando estava em um estado que me condicionava não estar. O que procurava, talvez encontrasse á muito tempo, mas ao meio de um meio sem isso, não poderia ser aproveitado. As idéias se moviam vagarosas, e os ideais maué já eram outros...
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