Branco céu

O céu branco
Mais branco que o branco dos seus olhos
Mais branco do que a nossa alma

Esse céu branco que cobre nossas cabeças
Está agora em nossos pés

Desse céu branco que caí
Caí a chuva, que molha
Caí o sol, que ilumina todos nós

O céu branco, pálido
Inspirador
Céu branco das manhãs
Suspiraremos

Esse céu branco em que amanheço
De estrelas tão recentes
Céu de noites acabadas

Céu seu e meu, meu bem
Branco e estéril
Branco e simples

Céu branco que molha tudo de melancolia
Céu branco que caí ... e caindo se acaba

Das Dores de Oratórios - João Bosco

"Porque o amor é como fogo,
Se rompe a chama
Não há mais remédio"
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Se amasiou com a tal solidão do lugar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só pecou nas noites de sonho ao gozar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só ficou só
Ele a deixou
Só ficará... hum! Foi por amar!
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Noiva que um andor podia carregar.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Dor que a própria dor de Das Dores será.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Não virá?
Não.
Ele virá...
Não, não virá... hum! Foi no altar
Era um lugar
Era iô iô iô
Salvador Maria de Antonio e Pilar.
Era um lugar
Era iô iô iô
Seixo que gastou de tanto esperar.
Louca a gritar
Ela iô iô iô
Esquecer, quem há de esquecer
O sol dessa tarde... hum! Sol a gritar.

Ah se estivessem por lá antes...

Eu vou levar-lhes pelas ruas que vivi no mês que vêm.
Pegaremos o metrô no Butantã e iremos até a Sé, só para eu mostrar o tanto de gente que passa por lá, gente apressada para valer, correndo com sentido certo, nervosa, cheias de angustias e vida que pulsa.
Como será cedo, sentirão o cheiro da cidade dos cheiros, aquele que inspira todos a dar mais um passo, acho que é de leite fervendo ou mesmo de ideias borbulhando.
Depois pegaremos um trem até a republica, mas subiremos pela saído do Largo do Arouche e andaremos até a Santa Casa da Misericórdia,
onde irei mostrar os velhos prédios e os gatinhos mimosos que andam por lá, falarei de toda a mágica da morte que ronda por ali,
e falarei também das nossas tentativas furtivas de criança para ver os mortos do necrotério, e falarei sobre minhas doenças que faziam minha mãe pular da cama no meio da noite.
Depois subiremos a rua Itambé e dobraremos na General Jardim. Vou bater em uma casa colorida que tem lá, onde guardam tantas lembranças boas da minha infância, aí mostrarei a vocês todas as grandes pessoas que conheço.
Logo a conversa vai terminar, depois de algumas risadas e um pouco de Chico.
Vamos a Biblioteca Monteiro Lobato, onde quero mostrar tudo e falar da minhas experiências com o teatro. Passearemos pela pracinha e lá ,talvez, uma de nós terá coragem de escorregar e cair de bumbum na areia, riremos e iremos ao SESC, cenário da minha pré-adolescência.
Verei vários amigos de longa data e apresentarei todos a vocês. Travaremos algumas discutições sobre a subjetividade e nem perceberam como tudo aquilo é um grande presente para mim. A fusão de dois mundos...
Aí, como vai ser uma sexta, iremos para a Borba ver os moçoilos da grande faculdade ali perto, um noite perfeita que terminará em algum bar ou cinema da augusta.
No outro dia, bem cedo, visitaremos a Liberdade e nós sentiremos livres em cima de uma daquelas grandes pontes vermelhas comprando besteiras.
Iremos para a 25 de março nós perder na multidão, ser mais algumas entre tantas e tantos...
Conheceremos a praça da Sé, só para vocês sentirem o gostinho de ser paulistana no centro do Brasil. Andaremos até a Republica, onde comeremos um Tempurá de pé e veremos uns artesanatos cheias de singularidades.
Será um fim de tarde de risadas e olhares pelos belos garotos e garotas do centro, pelos belos garotos e garotas da grande Galeria do Rock.
Mas o que será?
Repasso o plano umas dez vezes, escrevo e descrevo para mim como falar de cada lembrança sem esquecer de nada. Será que consigo? Será que meus olhos vão vazar?
Quero que se sintam como eu nessa felicidade nosence e cheia de saudades e um tempo tão passado...

O velho da montanha

Existe tanta gente que tem medo do tempo, que tem medo que ele passe sem que percebam, pensa até que ele é um grande monstro. Coitado... Acaba sendo mal compreendido! Só quer ensinar a todos as coisas que acumulou com sua experiência. Ele é assim: um velho sábio vestido de branco, sentado em cima de uma montanha meditando e guardando um rio que passa por ali. As pessoas que conseguem dialogar com ele, e pelo menos um pouquinho entende-lo, podem beber da água do rio que o Tempo protege. Essa água traz uma sensação de plenitude que só entendemos com a experiência.

Mas que fique bem claro, subir a montanha não é tarefa fácil, porém descer... Bom, para baixo todo santo ajuda, né?! Ou se não tiver santo, temos a física e o Px, como queira.

Quero destacar que o melhor não é descer, o melhor é subir e colher tudo que puder nessa caminhada. Na encosta da montanha existem tantas pessoas, coisas, cores, flores, dias, noites, caminhos e confirmações incríveis que nem se pode imaginar. Teve gente que subiu pela montanha várias vezes na vida e me contaram que a água muda se sabor a cada gole.

Você pode até me perguntar o porquê de nos preocuparmos com o tempo, se somos tão jovens. “Ora!” responderia, “ quando quer começar a subir a montanha?”. Ou melhor: “Quando quer pensar no tempo?”, “Onde estará daqui a dez anos?”, “Quais são seus sonhos futuros?”... Isso tudo parece muito com aquelas conversas de gente velha. Mas já disse que o Tempo é muito velho. Quando eu fui lá ele olhou para mim profundamente e perguntou: “Você consegue viver no agora, neste instante, já?”. Confesso que não consegui responder... E depois de muito conversar ele me deixou beber da água, bem pouquinho, disse que tinha muito a aprender. Ao beber senti gosto de passado e no finalzinho, mas bem forte, gosto de futuro, foi quando entendi a pergunta.

Dentro

E dentro da menina tinha uma outra menina.
E dentro da outra menina tinha uma outra menina...

E dentro da outra menina tinha uma mãe.
E dentro de uma mãe, tinha um pai.
E dentro do pai tinha uma mulher loira.
E dentro da mulher loira tinha a vontade.
E dentro da vontade tinha a ganancia.

E dentro de um homem, que passeava, sem nem perceber,
(pela minha rua), tinha a ganancia.

E fora da mulher do carro, que passou sem perceber pelo homem (na minha rua), tinha outro homem.
E fora do outro homem tinha um cachorro.
E fora do cachorro tinha um gato.

E dentro do gato, tinha um rato gordo.
Mas fora do gato só tinha um rato magro...

E dentro do rato tinha a pipoca.
Que mais cedo, a menina deixou cair.
Mas, como o rato, ela também tinha a pipoca dentro de si.

E o queijo estava lá, dentro da menina,
Meio que junto com a outra menina, que estava junto com a outra menina...
E ao mesmo tempo, meio que separadas...
Mas tudo dentro da menina.

E lá de baixo, no sub-alguma-coisa da menina estava o dia, cheio de luz.
E no dia estava ela com a outra menina,

As três sorrindo, num dia de sol...
Sorrindo da água que caía e de como elas estavam molhadas.
Sorrindo por estarem todas dentro do grande mundo.
Sorrindo pelo mundo estar dentro do grande universo!

Para Alana e Eliza.. Minhas meninas!

Anil

Azul,
Azul é o céu
Azul é o sol
Azul é o mar
Azul é luz
Azul é a paz
Azul é dia
Azul são as coisas mais preguiçosas e maravilhosas
Azul é interior
Azul é o exterior
Azul é o detalhe do vestido
Azul é o que roda
Azul é o que gira
Azul é a terra
Azul é vida

Azul é a liberdade ... e não vermelha...

Des - vaneando

Hoje pedi para um amigo uma musica que ele tá compondo para letrar...
Será que posso me aventurar nessas coisas de música? Será que tenho capacidade de aprender todo os acordes que me chamam tanta atenção?
Hora! Deixa só...
Logo me imagina no parque do Ibirapuera com um lindo violão nos braços, alguns bons amigos e uma pinta de underground.
Aí esses amigos vão ter ideias sobre um novo jeito de fazer música, cheia de muito senso critico e conhecimento, sairemos lutando contra toda forma de repressão com o sol nas bacas de revista... imagino e imagino.
Ah droga! Isso já aconteceu.
Aí vocês, se começarem a entrar na minha loucura, me perguntariam o que falta nessa cena e lhes respondo que falta muito! Eu riria... Falta eu aprender a toca violão! E falta o Ibirapuera, os tênis all star surrados, as camisetas vermelhas, as ideias vermelhas, os dias de sol, o borbulhamento dos sonhos e principalmente a canção que toca no fundo ( o mais importante), por que todo mundo sabe que um bom filme só é bom mesmo se tiver uma trilha sonora que preste... Ou não.

De Micaela Barbosa

“...
A vós fruidores da arte, a vós fazedores da arte, a vós amantes da arte, a vós críticos da arte, pergunto-vos: o que quereis vós da arte? Simplesmente isso, o que quereis que a arte vos dê? Ou que quereis vós dar à arte? Será que estamos assim tão distantes?

Em pensamentos fugidios, em momentos de vontades, fez-se necessário para mim, talvez só para mim, partilhar algumas ideias que convosco se foram maturando, convosco se foram contradizendo e convosco são agora comungadas, espero!

Eu quero simplesmente uma coisa da arte: DESAFIO!!!

Não quero da arte beleza, pois ela constantemente se cruza comigo, a verdade que eu tenho como beleza suprema e não algo fora dela.

Não quero da arte amor, pois sempre o encontro sem surpresa e sem transcendência na vida e o coloco noutro lugar especial.

Não quero da arte a dor, pois sem querer a vida ma dá de quando em vez.

Não quero da arte a história, pois alguém se encarregará de a fazer sem que se exija.

Não quero da arte a revolução, pois acredito mais em operários do que em artistas.

Não quero da arte um conceito, pois sou eu que o dou à arte e não ela que mo dá.

Não quero da arte uma forma, pois acredito no disforme.

Não quero da arte.....

Não quero nada da arte a não ser o sentir o abismo do desentendimento, ou melhor, o abismo do nada. Adoro estar perante algo que não entendo, que não sinto, que não toco. Adoro a viagem que tenho que empreender para me aproximar de algo, mas simplesmente no momento do toque já a arte desapareceu.

Tenho sentido em meu redor, palavras, sons soltos...conceitos presos...arte contemporânea, cinema pobre...pois meus amigos, para mim isto só faz sentido, só embarco nestes barcos se for para sentir o desafio, pois se for para me darem as vossas verdades acabadas, as vossas morais esperançadas, os vossos objectivos concretos, não metam a arte na conversa.

Do cinema, do teatro, da música, da poesia, das plásticas...só quero isto - DESAFIO!

A arte, o fazer artístico, já esteve ao serviço do outro do homem, do mito, do semi-deus, do deus, da politica, da moral, do sonho, do egocentrismo, do egoísmo, do real, até mesmo ao serviço da própria arte, imaginem...pois eu não quero mais um serviço, quero poder perder o equilibro...

Para mim a arte só faz sentido se for para me tirar os sentidos, para me inebriar, me confundir, me embebedar, me abismar e sobretudo me desafiar!!!

Ou então eu só faço sentido para a arte...se eu não tiver sentido algum...a arte tem que ir para além da vida...ela tem que criar uma outra vida, a sua vida, a sua própria vida, ou outro nome qualquer, e com ela poder flutuar.

E vós, quereis o quê da arte? Ou melhor, tendes algo para oferecer?

Me limito horas a fio a viver no fio da lógica, a viver no fio da razão, a viver no fio do sonho...mas e para além disso o que há?

Pois para mim, terá que haver a arte, não aquela que eu quero, simplesmente a arte que me desafia a querer ou a não querer.

Mas não me ofereçam aquela que eu não quero embrulhada em papel bonito!!!

Depois disto, já nem me apetece chamar arte à arte.

…”