Sina da vaca

Pastos para me servir
Me lambuzar no verde
Na clorofila sintetizada
Fotossíntese

Neste mato seco
Minha eu farei
Neste mesa comerei
Mastigarei vagarosamente o chão

Depois vou defecar
Para mais tarde comer as fezes
Que podem ser minhas,
Ou não

Des-graça de ser vaca
Para depois morrer na faca
Açoitando minhas tripas gordas
Minhas mães leiteras

Fazendo escorrer o humor
Pelo chão
Deste ser que é, não
Vaca serei

Entende meu sarcasmo?


Problema de matemática

Para todo x eu, E
Se para todo x amor, A
Então A a nós, B
Eu e você

Verdades visíveis á luz da madrugada

Não gosto quando amanhece, o sol atrapalha a visão da noite escura. Então percebo como minha percepção é volúvel, que a realidade não passa de ilusão, assim como tudo que me atenho. Estou com fome, talvez um pouco de sede, mas não estou com um pingo de vontade de levantar para abrir a geladeira, o que só afirmaria meu sedentarismo aumentando. Agora começa a amanhecer de verdade, o sol já está iluminando o nosso pequeno lado do mundo. Será mesmo muito difícil ancorar um navio no espaço? Meu maior consolo é que do outro lado se faz noite, sombria, húmida ( além de úmida) e pálida. Ela vai construir e destruir as insônia e pesadelos coléricos e cheios de poesia. E o mundo será dois, dia e noite. Interligado pela dimensão dos que sonham e dos que apenas dormem. Mas em dois se fará a imensidão das multipolarides que ele realmente é, porém não conseguimos enxergar completamente ( ainda).

Sono seco, bocejo longo. Nem sei direito se vou ou não para a cama (acho que não). Preciso dormir para suprir minhas necessidades e trucidar certas ansiedades . Pensamentos loucos, soltos no meu sanatório particular, prematuros desta mãe prematura e sem jeito de pegá-los, ordena-los, endeusa-los: banhando com muita poesia e caricias de desejos . Preciso dormir para não pensar nas fazes da matéria, na agregação que sou deste mundo de tantas e tantas partículas as ciência, que só, é oca. Fugir do mundo periférico que se incendeia devagar, agarrado as besteiras cotidianas. Agora já é dia, ora de acordar. ( ou sonhar)

Ahhh Fernando de tantas pessoas !

"…Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida-real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar."
Fernando Pessoa

Lamento - não leiam

Rasteiro
Consumindo minhas dores
Dentro de alguma gaveta
Espelhos e amores

Os restos das suas lágrimas,
Abertas mágoas
Minhas
Além das feridas fechadas

Seu olhos
Me olhando olhar
Seu ar austero
Com seus luares escuros


Pequenos pecados
Para te homenagear
Pequenos pedaços de mim
Só para você desprezar


Depois das desonras mortas
Está na hora
De mais um cataclisma
Aqui, onde você mora

Te evoco quando necessário
Para chorar mais um pouco
Suas lágrimas frias
Escorrendo no meu rosto


Para eu sentir sua dor
Sem seu amor
Desculpe-me
Por favor



Estava olhando para mim e te vi. Sem querer escorreu uma lágrima só, porque nunca será fácil, nem se você quisesse. Porém você continuaria comigo para sempre. Sempre? Não! Só por enquanto... Te evocaria nas horas necessárias, só para chorar mais um pouco. Entender o acaso que brinca burlando as emoções mais temíveis. Quem nunca se sentiu só ?
Só, mesmo no meio de tanta gente que não te ouve. Um dia ainda te dou um sonífero, te pego no colo e levo-te para fora de mim. Vou fechar a porta, mas deixar uma fresta na janela para quando quiser entrar, contudo observe se eu não espero tanto quanto agora de você. Faça silêncio, não esbarre em nada, não tente me levar para fora só me consuma rapidamente e saía.

Rascunho do sentimento

Vou sorrir
Seguirei
Passo a passo
Meus conselhos pragmáticos

E você tão cego...
No meio de tantos náufragos
Do meu ego

Seus lábios e faces
Tão devorrador
Tão devastador
Apunhala-me por favor

Onde o mundo mora?
Onde se escondeu?
Porque está tão perto?
Quem sou eu?

Publicar o rascunho deste sentimento
Mas liberdade não posso alcançar
Oh tão presa...
A este lamento




A bruxa e a lança

Devorado pelo amor que não o deixava em paz

Procurou pela bruxa

A quem ouviu dizer que tudo faz

Soube que para encontra-la

Teria que subir uma grande escada

Uma imensa escalada

De degraus vertiginosos

De ventos ruidosos

Ele se fez forte de todas as formas

Para aguentar todas as dores :

Do corpo e d’alma

Via o maior do seus temores

o cambalear

Quase desistiu de tal Bruxa alcançar

Depois de muita tortura,

Já desesperado

Chegou ao fim da escadaria muito cansado

Porém a Bruxa não avistou

E ficou gelado

Como quando o sangue cala

O coração ordena, mas o mundo para

Medo correu-lhe as veias

Ácido cru

No corpo nu

Por persistência da paciência

Foi diligente

Devagar procurou a Bruxa

E quando a viu não parecia nem um pouco inteligente

Uma sombra azulada

Como a escada de anil

Ele delirava de dor

Ignorando seu clamor

E ela olhava resignada pelo mundo

Com um olho só

Quieta, muda

Fazendo um nó

(nos pensamentos dele)

_ És a Bruxa?

_ Como ?

Mais alto:

_ És a Bruxa?

Abriu seu olho cego e disse com muita tristeza:

_ Sou quem quer que seja !

_ Pois sim! Pode ser a Bruxa?

_ Posso. Que te aflige, meu caro?

_ São maus de amores... Coisas que não se esquece... Meu corpo doí e minh’alma quer sair de mim para se juntar com a dela. O que posso fazer?

Chorou, pois não tinha mais o que dizer.

De seu altar desceu a Bruxa

Segurou-lhe como mãe má

Tirou na manga aquilo que no momento há

Uma lança cheia de fermento e coentro

Enfio-a com força e sem mágoa

No coração dolorido dele

Entrou que nem água,

Saiu como seiva leve

Que escorre do vento tempestuoso

E o por segundo o mundo não era tão maldoso :

_ Ouça um conselho

Não olhe para o espelho

Mesmo que queira muito fazer

Por que é ele quem tu deve estar a amar

Mas se de tudo não resolver

Eis o que deves executar:

Junte sal e sol

E coma com o amargor

Em brasas fulgurantes

Do amor

A um coração enlameado pela dor

Não resta muito do que resolver

Se puder

Substituí esta lança pelo terror

Não o faça pelo objeto do amador

Escolha um lindo coração para coroar de prazer

Tens muito a fazer!

Vá e tire das costas esta velha cruz de ferro e zinco

Desça a escada de uma vez !

E me faça o favor prometendo perante a este altar

Nunca mais voltar


À Luciola - que muito temerosa conseguiu da Bruxa a punhalada do sucesso !

Você tem um futuro fadado ao puro esplendor divino, menina!