Gema brasileira

Em época de eleições

Vejo muitas mudanças acontecerem

Pessoas rejuvenescerem

Milagres e lições

Em anos de eleições

Vejo opiniões

Discursos

Discutições

Uma tramela

Batendo na minha porta

Gema amarela

E o progresso que não se torne regresso

Se não serei eu,

Que proíbem de votar,

Que ousarei no ápice de uma revolução

Me revoltar

45 anos

O que serei daqui a trinta anos?

Uma mero desejo?
O sopro, um pensamento?
Serei meiga ou forte?
Inteligente ou dramática?

O que serei daqui a trinta anos?

Serei eu ?
Serei você?
Saberei quem sou?
Ou o futuro?

O que serei daqui a trinta anos?

Será que vou achar os papeis que guardei?
Ou as lembranças que sonhei?

Será que vou dormir tranqüilamente?
Ou será que não durmirei?

Será que vou encontrar o caderno velho, onde você riscou?
Será que vou lembrar que prometi te ligar?

O que serei daqui a trinta anos?

No que me formarei?
Pedagogia?
Letras?
Ou advocacia?

Comerei alface ou pílulas?
Serei uma nuvem ou aço?

Acho que me perderei no espaço
Esquecerei de muitas coisas
Mas me lembrarei de muitas pessoas,
lugares, fotografias, cheiros...

Tudo o que poder me dar conforto
Depois de tantos fatos e desgastos
Serei um estrela em uma noite estrelada

O que você será daqui a trinta anos?


Dedicado a Bruno Candotti a quem prometi que lembraria quando tivesse 45 anos.






De que nada servirá

Depois de mais de dez minutos esperando a telefonista me atender alguém atende e desliga.
Ahhhh que raiva.
Ligo de novo. Espero que alguém menos eletrônico me escute. Entenda-me, compreenda meus problemas e conflitos. Choro ao perceber que sou apenas mais uma insignificante pessoa no meio de tantas outras. Esperando e que também estão aflitas, como eu. Para eles, somos a velha retórica: números. Apreensiva, mordo a borracha de um lápis enquanto escuto a música chata pela milésima vez. "Tan , Tananã, Tan, Tan..." e repete e repete. Não sei mais o que faço, agora estou com tanta raiva que sou capaz de xingar a mãe da atendente. Calma!A música para. Um segundo de silêncio...
E a voz eletrônica diz: "Seu tempo de espera é de 15 minutos". A música volta. A raiva aumenta, disseram que havia uma lei onde o tempo máximo de espera é de 10 minutos. Agora me sinto lograda, apenas uma maquina de movimentação que aguenta como pode o capitalismo. Oh, o mau dos males : O Capitalismo.
Seguro forte o telefone, com vontade de arremessa-lo na parede. Percebo que o lápis já está todo mordido. RAIVA.

Sem paciência, desligo o telefone, pensando me vingar deles. Alivio. Me vingar da voz eletrônica, negar-lhes meus lamentos e aflições a todos aqueles seres imundos. O que de nada servirá, claro.

Work / Word

Ternura

Vida dura


So, sorry

Habitua
Miniatura
Habitua

Caminhão no chão
Pé no asfalto

Alto trapézio
Alto...

Cor decorada
Aba do amor

Pena que cai devagar
Aterrissa no ar

Dois menos um

Culpa

Para a resposta
Longe de chegar





Sonho (Clarice Lispector)

"Sonhe com o que você quiser.
Vá para onde você queira ir.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades
para fazê-la forte.
Tristezas
para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz."

Borboletas...

Vou falar sobre o leve vou da borboleta por que não aguento mais ouvir sobre a metáfora da metamorfose.
O vou é tão leve que nem sei com se sustenta em tão pesado ar. Asas balançam de vagar para ensinar que tudo é lindo de longe. Você já viu um borboleta de perto? Mas tem que ter sido bem perto mesmo... é feio, posso lhe garantir. "Ninguém de perto é normal" - Há Há
Essa borboleta que é tão frágil, doce, mística, colorida e tantas outras coisas que sinto quando a vejo. Um estimulo visual, de longe (como já disse). Em seu vôo próprio, em seu lugar sem poluição, sem entomologistas ou colecionadores.

Você gostaria de algum dia ser uma borboleta?

Pois você já deve ter feito parte de uma, como? Com a sua matéria que transita pelo universo... Só não se lembrar por que seu pensamento não transita no universo... Ou transita?
Acho vou dormir um pouco, essas coisas de borboleta me deixam com sono.

Carta ao amor

Olá querido,

Preciso-lhe falar com urgência. Estamos em tempos de morte e eu estou morrendo. Aos poucos vou deixar de ser para integrar o universo como outra matéria. Embora não será um morte como pensas: morrerei em pensamento e nascerei amanhã de manhã. Mas queria lhe falar hoje enquanto você causa em mim esta morte vagarosa, ela que mata enquanto estou além da mim mesma.
Te amo, para isso foi necessário parar de morrer por um instante para me jogar neste abismo sucumbi-dor que se torna o amor que não existe no fim. Me ajude, antes que o sol apareça para eu não esquecer dessa grande besteira que te escrevo, pois não quero que morras nesta figura terna que agora representas tu em mim.
Escrevo para vomitar este sentimento, parir qualquer fragmento: entende-lo em mim se der: não quero-lo : e amanhã de manhã morrer no sol, como um ingênuo pedaço de história viva (o que na verdade nunca se tornará).
Desculpa se não o digo, espero que nunca leia, por isso aqui escrevo. Estou um tanto consternada, como sempre o desespero me pegou de surpresa junto a esta ânsia no meio da noite morna.
Queira me perdoar se nunca ler, não posso fazer nada. Talvez te diga algum dia... Quanto tempo? Não quero ser egoísta contigo, que hoje se mostra em tal esplendor de felicidade e beleza. Ficarei neste estágio platônico, porque só Platão me entenderia agora, ou não...
Para você algo maior que esta incineração que sou hoje
Nunca sintas o desespero de não entender nada ao redor, siga o entendimento de não entender-se: como eu não pude fazer.